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Não seja autoritário — isso é uma ordem

Ou, por que criamos regras para nós mesmos que não conseguimos cumprir

É um fato. Você não pode viver sem autoridade; sempre haverá alguma autoridade em algum lugar — quando você tem problemas de saúde, um médico se fará necessário, quando tem problemas legais, um advogado. A única maneira de viver longe da autoridade de outros é sozinho mesmo, fora da sociedade.

Dito isso, deveríamos entender a diferença entre o que chamamos de autoridade natural e autoritarismo — como diz Furnham:

As pessoas autoritárias, dogmáticas e intolerantes são caracterizadas por três fatores: um grande desejo de rejeitar todas as ideias que se opõem à sua opinião formada; um baixo grau de conectividade entre as várias crenças; um número muito maior de ideias complexas e positivas sobre as próprias crenças do que sobre coisas/questões nas quais elas não acreditam.

Furnham, Adrian. 50 ideias de Psicologia (Coleção 50 ideias) . Planeta. Edição do Kindle.

Como eu já disse, eu saí do Facebook, em parte por descobrir no seio da minha família pessoas que pactuavam com as ideias autoritárias do candidato à presidência, J. Bolsonaro. Isso não é o pior, pois política e ideologia é sempre um terreno confuso e difuso, ao menos para mim que tenho sido individualista por toda a minha vida; como o peixe que não sabe o que é água, eu não entendi senão até bem pouco tempo que isso se devia a habitar um mundo que em si é autoritário e “autoritariocêntrico”, isto é, o Brasil. Segundo Furnham:

(…) as pessoas autoritárias [ficou provado que] evitam situações que envolvem qualquer tipo de ambiguidade ou incerteza e relutam em acreditar que “pessoas boas” podem apresentar atributos tanto bons quanto maus. Os autoritários muitas vezes parecem se interessar menos por questões políticas, participam menos de atividades políticas e comunitárias e tendem a preferir líderes fortes.

Furnham, Adrian. 50 ideias de Psicologia (Coleção 50 ideias) . Planeta. Edição do Kindle.

Tocou algum sino? Conhece alguém assim? Exatamente, todo mundo é assim. Ou pelo menos todos que interagimos no facebook e whatts nos últimos meses deste ano. O ano não acabou ainda, mas já dá para começar a vislumbrar como se deu a discussão ideológica e política deste ano. Mais ainda, já dá para saber como vai ser daqui para frente.

O homem que tenta ser bom o tempo todo está fadado à ruína entre os inúmeros outros que não são bons. Por conseguinte, o príncipe que desejar manter a sua autoridade deve aprender a não ser bom, e usar esse conhecimento, ou abster-se de usá-lo, segundo a necessidade. O PRÍNCIPE, Nicolau Maquiavel, 1469–1527

Taí um renascentista que entenderia bem o Brasil, dir-se-ia. Lê-lo é se preparar para não se corromper, mais do que qualquer coisa; nem todos somos autoridades, mas todos dependemos de uma vez ou outra. É preciso ser como aquele ceguinho de nascença que à guisa de precisar conhecer as pessoas sem usar a visão que não possuía, aprendeu a identificar a maneira como as pessoas falavam e dali tirar suas conclusões a respeito de suas verdadeiras intenções. Precisamos mais do que nunca, o mais rápido possível, como que do dia para a noite, aprender a diferenciar uma autoridade verdadeira de um tirano. Nós já passamos por isso, mas como um passe de mágica, toda nossa sociedade parece ter se esquecido. Segue uma dica, ainda deste livro de psicologia que estive lendo:

A ideia é que o autoritarismo de direita é composto de três agrupamentos atitudinais e comportamentais. O primeiro é a completa submissão às autoridades; o segundo é a agressividade generalizada contra todos os “inimigos” dessas autoridades; e o terceiro é a aderência cega a normas e convenções sociais. Em consequência, as pessoas que nutrem crenças autoritárias de direita são absolutistas, bullies, dogmatistas, hipócritas e fanáticas. Furnham, Adrian. 50 ideias de Psicologia (Coleção 50 ideias) . Planeta. Edição do Kindle.

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Interrompo aqui para lembrar que autoritarismo de esquerda também existe. Não apenas no passado mas no presente. A diferença que observamos é que neste mundo saturado de informação, foi a direita que aprendeu muito rápido a utilizar de fake news, revisionismo histórico e a atiçar as chamas do nacionalismo.

Elas defendem efusivamente todo tipo de punição e veem os liberais e o libertarianismo com desconfiança. Não questionam suas crenças e por vezes são incoerentes, defendendo ideias contraditórias. Tendem a defender dois pesos e duas medidas, mas ao mesmo tempo consideram-se moralmente superiores e não são nada humildes ou autocríticas.

Furnham, Adrian. 50 ideias de Psicologia (Coleção 50 ideias) . Planeta. Edição do Kindle.

Isso me lembrou de quando chamaram o Fukuyama de comunista. Também, muita gente veio a público explicar o que era direita e esquerda, e porque direita também pode ser libertária, assim como esquerda pode ser conservadora; recomendo o vídeo do Pirula com o Icles para maiores explicações.

Agora eu venho me perguntar, como faço para acabar o J. Bolsonaro que existe em mim? Terei que abandonar a sociedade como um todo? É certo que tenho passado cada vez mais tempo dentro de casa… não acho que seja o caso de abandonar completamente o interesse em política — é um caminho sem volta. Mas penso que com certeza eu tenho que entender onde esta o autoritário em mim antes de apontar no meu irmão; mais ainda, quero que isso seja tão gradual quanto o tempo que o autoritarismo levará para sair do poder outra vez — parto do princípio que vai levar muito tempo, mas nunca se sabe. Como dizem, o Brasil não é para amadores, e nem nós deveríamos sê-lo.


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Tenho procrastinado. Mas eu posso atenuar as circunstâncias se eu disser que passei o dia tentando não fazer. Acho até que agora posso descansar. Até mesmo por que a intenção era fazer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo. Assisti um episódio O homem do castelo alto; me eletrizou e vi o romance lésbico da artista com a jornalista acabar, além de um japonês de meia idade derrubando e vencendo um alemão gigante e um nazista morrendo para que a Jules entrasse no lado nazista. Também assisti um episódio aleatório de The Oficce.

Esta noite durmo só, minha esposa partiu cuidar do pai dela. O pai dela ficou mal e foi hospitalizado, hoje está sendo tratado em casa, respirando com ajuda de oxigênio. Lamento sinceramente por ela, parece fácil de resolver olhando de fora mas eu sei que a ninguém isso é desejável. Poderia ser minha mãe ou meu vô. Eu só não vou para lá porque eu fui irresponsável, os problemas se acumularam e preciso me mexer, como sempre, aliás. Ficarei nisso o dia todo, me alimentarei mal e farei bagunça em casa, com certeza.

Também, escreverei sobre algo que me agrada e ficarei acordado além da minha hora. O plano é dormir na hora que quero acordar — se cinco horas, então dormir às cinco, educando o relógio hormonal para dormir cedo e começar a se cuidar. Não soa uma bom plano quando eu leio. Não quero viver para sempre — é impossível, mas quero viver bem o que me resta. Quero me expressar em minha possibilidade absoluta e ser aquilo que Deus quer der mim.

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