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Um esboço de meu primeiro capítulo de dissertação


Uma busca rápida no google trends revela que por volta de 2007, no mundo todo e no Brasil em particular, as buscas no google pelo termo web 2.0 tiveram seu maior pico. Coincide com o lançamento do facebook no Brasil, quando ganhou suporte em português. Foi também a data que eu fiz minha conta lá, e segundo consta, em 2 de junho, minha primeira postagem. Se tratava de uma poesia celebrando uma noite com amigos ouvindo música. Nos próximos meses iria testar o compartilhamento de meus trabalhos de faculdade, empolgado em igual medida com a tecnologia e com o progresso nas disciplinas de filosofia.

Temo estar romantizando. A internet do início dos anos 1990 tinha muitos dos problemas que vemos na de hoje. Embora eu lembre que o fórum de adolescentes era bem moderado, o racismo e a misoginia que povoam as seções de comentários atuais já prevaleciam há trinta anos. Green, John. Antropoceno: Notas Sobre a Vida na Terra (pp. 92-93). Intrínseca. Edição do Kindle.

Provavelmente foi nesse ano que muitos dos nossos conhecidos começaram a usar a web. Foi quando ficou mais fácil divulgar sua opinião e trazer fotos pessoais. O orkut, lançado em 2004 e o twitter lançado em 2006 corroboram essa afirmação. Hoje, 15 anos depois, temos como absolutamente normal possuir uma conta em uma rede social - ainda que seja somente o nome, uma foto e mais nada. Após diversos escândalos de venda de dados pessoais a manipulação de eleições, de racismo de algoritmo a aumento de depressão de jovens, o número e a influência dos assim chamados tecnocéticos só aumentou.

É lugar comum entre interessados no tema o ditado de que antigamente era melhor - uma internet livre e que incentivava a descoberta - uma rede sem vigilância onde reinavam os blogs. Mera nostalgia ou não, foi uma época em que a internet era feita na maioria por pessoa comuns, tentando compartilhar seus interesses e gostos. O geocities, à época de sua venda para o yahoo, movimentava um terço de todos os internautas na rede. E seu encerramento, em 2009, foi o sinal inequívoco de que uma era da internet havia chegado ao fim.

Segundo James Bridle, a fundação da World Wide Web do Sir Tim Berners-Lee foi o que chamam no meio de “Hora do Vapor” , pois foi um daqueles momentos em que todo mundo está pensando a mesma coisa até que alguém consegue concebê-la. É o caso do motor a vapor, que batiza o termo, mas é também o caso da invenção do avião e de muitas outras coisas (BRIDLE, P.91). Nesse sentido a narrativa heroica do gênio solitário se desfaz rapidamente, deixando espaço para uma concepção mais geral de zeitgeist. Provavelmente a verdade não se encontra em nenhum destes extremos e em nada diminui a genialidade do inventor fazer parte de um momentum maior de inovação e anseio.

Fato é que não fosse a world wide web de Sir Tim Berners-Lee não teríamos acesso a internet nem remotamente próxima de como fazemos hoje - seria o equivalente a ter postes de energia elétrica, e mesmo uma rede elétrica dentro de casa, mas com nenhuma tomada para ligar nada. Foi a world wide web que possibilitou a interface humana e artística da internet. E mesmo que com o tempo se tenha adotado uma linguagem especial para editar essa interface, em sua concepção original, era apenas um bloco de texto e nada mais. (entrevista à bbc). De certa forma nisso os blogs eram alinhados ao que a web era originalmente desenhada para ser. E isso foi perdido, ao menos é o que parece, com a mudança de paradigma para internet web 2.0.

Não que a escrita tenha sido extinta da internet mas, como era de esperar, ela foi pulverizada e deixada para trás na competição por atenção que as plataformas se investiram. Como se preocupar em ler um artigo quando se tem ao rolar do dedo vídeos de dancinhas, fotos e música? Até mesmo quando é texto, o texto acaba sendo desmembrado - caso do twitter que originalmente permitia apenas 140 caracteres e hoje permite o dobro, mas ainda sendo insuficiente para no mínimo evitar mal entendidos que lá ocorrem corriqueiramente .

As plataformas também não tem intenção de mudar isso - e se um texto maior faz o leitor parar para refletir então é melhor que ele não leia - a economia da atenção tem entre suas regras a que quanto mais tempo um usuário passa dentro de sua plataforma, mais valor a plataforma gera. Escrever na internet, por essa e outras razões, hoje em dia, é um verdadeiro, entre tantos outros , ato de resistência.

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