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capa

Quando deixamos de entender o mundo

Notas de leitura

Data finalizada: jul 4, 2022 - Autor: Benjamín Labatut - Tags: #história, #nãoficção

Impressionante domínio do devir histórico. Deslumbrante prosa, viciante forma de contar uma história. Um vislumbre da barrafunda de ideias e paixões que foi o século XX, especialmente na ciência.

A primeira impressão é de deslumbramento - dúvidas como, “foi assim mesmo?” e “você só pode estar tirando com minha cara!” vão aparecer na leitura, a ponto de querermos parar a leitura para confirmar ou não, mas é claroq ue não fazemos isso. Temos que seguir até a conclusão. Uma impressão que vem depois de ler é que, poxa, “era curto” e em seguida, “é foi divertido”. Não dá para dizer que seja mais doq ue entretenimento cabeça e interessante. Com certeza dá uns motes legais para puxar conversa. Mas quando o feitiço da leitura acaba e pensamos que o autor ficcionalizou algumas coisas - bem, é aí que começa a verdadeira viagem.

A todavia, embora relativamente nova, tem arriscado e conseguido trazer bastante coisa interessante para o mercado brasileiro. Eu estava namorando esse livro principalmente pela beleza de sua capa, além da confiança que tinha na escolha editorial; em uma onda de livros de não ficção, comprei-o. O preço um pouco alto ainda para um livro curto, mas ainda assim uma boa edição.

Estudantes de física, de filosfia, leitores profundos da psicologia humana; gente que tem verdadeira paixão por história do século XX, e gente qeu gosta de versões ficcionalizadas de fatos históricos.

Eu me interessei mais ainda pela perspectiva cética da ciência como a que Isabelle Stengers apresenta. Ver a não ficção flertando tão firmemente com a ficção foi um aspecto menor que me interessou também.


“‘O senhor experimentou o haxixe? Não, claro que não. Hoje ninguém tem tempo para a eternidade. Só as crianças, só as crianças e os bêbados, mas não as pessoas sérias como o senhor, professor, os que estão prestes a mudar o mundo. Ou estou enganado?’”

‘Eu ainda me lembro da primeira vez que recebi uma chamada telefônica. Estava na casa do meu avô e minha mãe ligou do hotel onde gostava de passar férias para descansar de mim. Assim que ouvi o toque, arranquei-o do gancho e conectei minha cabecinha no alto-falante, sem que nada pudesse mitigar essa violência, entregue à voz que soava ali. Sofri, impotente, vendo como minha consciência do tempo, minha firme resolução, meu sentido do dever e da proporção eram destruídos! E a quem devemos esse maravilhoso inferno senão a vocês? Me diga, professor, quando começou essa loucura. Quando deixamos de entender o mundo?’.

Podemos separar os átomos, espiar a primeira luz do universo e prever seu fim com apenas um punhado de equações, linhas irregulares e símbolos enigmáticos que as pessoas normais não podem captar, embora tenham controle sobre suas vidas. Mas não são apenas as pessoas normais, mesmo os cientistas não compreendem mais o mundo. Considere a mecânica quântica, joia rara de nossa espécie, a mais precisa, abrangente e bela de todas as nossas teorias físicas. Está por trás da supremacia de nossos smartphones, da internet, da promessa do poder divino da computação. Ela remodelou completamente o nosso mundo. Nós sabemos como usá-la, ela funciona como que por algum estranho milagre, mas não há uma alma humana, viva ou morta, que de fato a entenda. A mente não consegue lidar com seus paradoxos e contradições. É como se a teoria tivesse caído na Terra vinda de outro planeta e simplesmente corrêssemos em torno dela como macacos, brincando e jogando com ela, mas sem nenhuma compreensão verdadeira.

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