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Cuiabá, fim de tarde. Foto tirada com o celular

Analisando o dia de sexta feira pelos dados gerados pelos vários monitores que carrego comigo: eu acordei às oito e dez, após dormir por 8:37 (8h 37m), ou seja, havendo dormido às 23:33 de quinta feira. Isso gerou cerca de 2h e 27 minutos de sono profundo (sono da aprendizagem e dos sonhos) para 6 horas e 5 minutos de sono leve. Descontam 5 minutos efetivamente despertos para ir no banheiro (embora eu não lembre) e temos 71 % de sono leve, 28 % sono REM. Média dos batimentos cardíacos: 63 bpm, o normal para alguém em repouso.

Acordando de manhã, descansado, tive o espírito de não consultar meu celular e nem acessar a internet sem antes fazer uma sessão de meditação. Para isso tenho alguns dados aqui também: eu me sentei no meu cantinho, com as costas eretas e observando a respiração, os pensamentos e as sensações sem julgar por 32m e 8s; meu coração estava a 74 bpm em média, e queimei cerca de 96 calorias (trinta minutos de bicicleta gastam mais de 400 calorias, para dar uma comparada). Ao fim desta sessão eu fui começar o dia efetivamente, lendo as notificações e fazendo café da manhã.

Chá verde e torradas

Essa parte da manhã iria se estender até meio dia e meia, hora que eu teria uma entrevista marcada com um morador do bairro Nova Esperança. Para chegar lá eu andei de bicicleta cerca de 2,3 km, passando pela Escola Pascoal Ramos e pelo Cemitério; chegando lá resolvemos remarcar e então tive que me preparar para meu novo destino, um encontro com o Leo lá no shopping. Avisei a Fatima e, solicitando, ela se ofereceu para me ajudar, já que eu precisava comer e estava sem dinheiro. Iria encontrar ela primeiro. Foram cerca de 13 km até lá em uma viagem incrível de bicicleta.

Eu costumo andar de bicicleta em Cuiabá já há algum tempo, e antes disso em Várzea Grande, muitas vezes vindo de uma cidade para outra, mas ontem eu estava com uma turbina na bunda porquê, vou te contar, não tem explicação. Não que eu chegara lá em tempo recorde. O Strava me mostra que eu só não fiz uma velocidade dentro da média, 21,7 km/h, como não andei os 13 km correndo, mas apenas 11,63 km. O tempo de movimentação foi de 32m e 10s e as calorias que eu gastei são estimadas em 453 kcal. A potência média foi de 188 w, e imagino que seja calculada com base na velocidade, distância e batimentos cardíacos porque antes de eu ter estes relógios que monitoram as funções cardíacas este valor não aparecia. Talvez eu tenha sentido esta aparente potência porque não andava tanto de bicicleta desde semana passada; talvez porque na cidade a corrida é mais emocionante com o tráfego sendo um obstáculo real; também o relevo da cidade influencia muito no esforço uma vez que eu ganhei 100 metros em elevação neste trajeto. De qualquer forma, dá para melhorar, mas não muito. Estas viagens de bicicletas são mais exercícios de resistência do que desempenho. Também, são maneiras alternativas que encontrei de deslocar-me na cidade sem me preocupar com horário de ônibus ou com a despersonalização do trajeto. Efetivamente, para chegar ao mesmo lugar, de bicicleta ao invés de ônibus, eu diminuo o tempo à metade (claro, isso não inclui o tempo se preparando para sair nem o tempo se arrumando e tirando a roupa suada quando se chega ao destino).

Essa bike me levava de VG a Cuiaba em 2011

No shopping encontrei-a me esperando. Subimos dois pisos e fomos almoçar. Logo nos despediríamos e eu iria ver o Leo. Entre o momento em que cheguei, tranquei a bicicleta lá embaixo e o momento em que saí com o Leo para ir ver os rapazes na UF, se passaram 108 minutos. Conversávamos enquanto cortávamos caminho até a universidade, isso por 550 metros. Neste meio tempo encontramos amigos dele que eram da mesma cidade em Rondônia e que eram pessoas irrepreensíveis do meu ponto de vista: gostavam de RPG e um deles cursava filosofia. Logo nos despedimos e encontramos os meus amigos que me esperavam na sala do Prof. João onde eles estudam e fazem estágio. Estava em ambiente amigável e me sentindo confiante. Batimentos por minuto neste momento: 60.

Vou ficar na UFMT na companhia de Leonardo, Cristian, Jonatham e outro rapaz até as 17h. O horário da entrevista era às 18 e eu precisava estar recomposto quando fosse encontrar o morador; me despedi e recomecei o trajeto, que sai da universidade, segue pela avenida Arquimedes e vai até o Trevo do Tijucal. Lá, eu pego outra avenida, a do Coxipó, e sigo por ela até a altura do posto São Matheus, um posto muito grande na entrada do bairro que eu estou querendo entrar. No caminho, caminhões. Muitos, enormes, como manadas de elefantes, e eu preciso de cuidado redobrado, muitas vezes tendo de andar explicitamente na calçada, contanto não hajam pessoas e esteja em bom estado. Passo na frente da penitenciária do Pascoal Ramos e como sempre me vem à mente os versos dos racionais que dizem “uma pá de homens presos chora a solidão, uma pá de mano solto sem disposição”. Ele tem razão, na maioria das vezes, e isso se aplica a mim, que às vezes deixo os compromissos se acumularem porque, afinal, que diferença faz. Mas hoje não. Eu pedalo e o vento sopra a meu favor, e pelo andar das coisas, chegarei lá com meia hora de antecedência, justo o que eu preciso.

Cristian apostando no futuro do ciclismo urbano

De fato, chego lá às 17:40, e, após reagendar mais uma vez a entrevista, eu vou para casa, por vinte minutos ao longo dos 3,2 km; aparentemente eu fiz um trajeto mais longo desta vez. É crepúsculo e eu não estava preparado para esta recusa e não esperava voltar tão cedo. As pesquisas que eu faço, de domicílio em domicílio estão ainda no começo, mas eu acho que já tive bastante preparo para elas. No meu curso de filosofia eu fiz um curso chamado Antropologia 1 com o excelente Professor Aloir; nele nós aprendemos bastante sobre o método etnográfico, e tivemos a oportunidade de fazer pesquisas com moradores da aldeia velha em Chapada dos Guimarães, isso ainda em 2007, 2008. Já naquela época eu me preocupava com a questão da não interferência e da observação sem julgamento do homem em seu meio.

Em Geografia, nos trabalhos de campo, embora não com o viés tão explicitamente antropológico, também fizéramos incursões semelhantes. O mais recente, na comunidade quilombola em NS do Livramento, na matéria de Geografia de fluxos & redes, me rendeu um trabalho digno de ser apresentado em um evento que participei em Cáceres; ainda teve um excelente trabalho de campo de Geografia Agrária com os assentados em Campo Verde; tudo isso contribuiu para uma formação social que hoje se aplica efetivamente no meu trabalho de pesquisador e recenseador do IBGE. Antes disso ainda, se aplica na vida, porque viver é aprender a aceitar as diferenças e entender que não existe cultura superior ou inferior, mas cultura diferente; quando somos crianças não vemos diferenças como quando somos adultos. Uma pessoa fala de uma casa, ela já quer falar de quanto custa, uma criança quer saber se dá para brincar; mas no fundo somos todos crianças, apenas nos esquecemos.

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